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Blog sobre a biblioteconomia, bibliotecário, biblioteca, informação, mensagem, usuário, TICs. O nome do blog foi "surrupiado" de um roteiro (para teatro ou cinema) escrito por Paulo de Castro, o maior bibliotecário da terra. E viva Kalímeros!

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Por que as boas idéias sobre bibliotecas não são executadas por bibliotecários?

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Em 2010 acompanhei o bibliotecário Antonio Briquet de Lemos em um evento na UFMG. Foi bacana porque pudemos conversar bastante tempo. Falamos sobre eleição, Brasília, sobre a importância dele para a história do rock brasileiro dos anos 80 (http://www.youtube.com/watch?v=PEcvjN7s260) e, é claro, Biblioteconomia. E ele disse uma coisa que não esqueço: que essas notícias sobre leigos fundando bibliotecas o incomodavam. Para ele, são os bibliotecários que devem assumir esse papel.

Adiante listei algumas notícias sobre projetos de criação bibliotecas e incentivo à leitura que - baseado nas reportagens - não tiveram a participação de bibliotecários em sua idealização. Para esclarecer: nem tudo o que é nomeado como "biblioteca" nas reportagens, realmente é uma biblioteca. Segundo o bibliotecário e professor Gustavo Saldanha 

o termo “biblioteca” é objeto da epistemologia biblioteconômica desde o século XIX. Logo, é um conceito que se não é, se quer, ao menos, científico. Este conceito ou quase-conceito comporta, por exemplo: serviço de referência, estudo de uso e usuários, desenvolvimento de coleções, administração, representação temática, descritiva e classificação, preservação, etc...

Dito isso, vamos à lista:
  • Acervos em pontos de ônibus e açougue-biblioteca em Brasília: o projeto "Parada Cultural", que cria mini-acervos em pontos de ônibus em um açougue foi idealizado por um empresário.



  • Biblioteca Comunitária da Vila Torres (em Curitiba): a biblioteca foi idealizada e montada pelos próprios moradores. Segundo a reportagem, o acervo foi catalogado por uma bibliotecária, que também elaborou uma política de desenvolvimento de coleções.


  • A Borrachalioteca em Sabará (MG): o projeto foi idealizado por um estudante e instalado em uma borracharia, mas foi expandido, segundo a reportagem do hoje em dia.




  • A bicicloteca em São Paulo: a reportagem não informa a formação e a profissão do idealizador do projeto, Robson Mendonça. Mas diz que a ideia de criar uma espécie de caixa-estante (uma bicicleta-estante) nasceu porque ele não podia fazer empréstimos em bibliotecas quando morava nas ruas e não tinha comprovante de endereço (reflitamos, por favor).


E como esses, há outros projetos - de bibliotecas comunitárias, de espaços de leitura, de caixas estantes - que não são idealizados por bibliotecários. Creio que existam outros tantos que são.

Ideias bacanas há muitas por aí. Há dois anos encontrei um livro na sala de espera de um aeroporto e pensei que alguém havia perdido. Ao folhea-lo vi uma etiqueta na capa: "não estou perdido, estou viajando..." O propósito era esse: depois de ler o livro o leitor o "abandonava" na sala de espera de qualquer aeroporto. Não anotei, mas havia uma maneira de verificar o caminho do livro. O leitor podia se cadastrar em um site e, utilizando um número de registro, dizer onde encontrou e onde "abandonou" o livro. Parecia uma ação de marketing de uma editora, ou uma iniciativa de um grupo religioso (o livro era editado por uma 'editora evangélica'). Mas me pareceu uma boa idéia, que inclusive poderia ser transportada para outros espaços.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

O futuro da biblioteca passa pela biblioteca infantil (e pela escolar também)

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No futuro as pessoas não vão mais sair de casa para ir a bibliotecas ou livrarias. Através dos cada vez mais sofisticados computadores e gadgets, o leitor acessará tudo o que necessita com um simples clique, toque de tela ou comando de voz (ou ondas cerebrais). Para muitos, esse futuro já chegou. As bibliotecas, até pouco tempo atrás baseadas no impresso, enfrentam um cenário de mudanças profundas com a popularização dos suportes informacionais em meio eletrônico. Se antes era o leitor quem ia à biblioteca, agora é a biblioteca que vai ao leitor. Mas nem todas as bibliotecas passarão por essas transformações radicais. As bibliotecas infantis e as escolares manterão muito do que são atualmente, mesmo que mudem.

Uma das razões é porque criança gosta de ler, não importa se pedra, casca de árvore, areia, papel ou e-reader; e também gosta de ir à biblioteca. Criança não tem preguiça; tem é tédio de fazer coisas maçantes. E leitura, definitivamente, não é uma coisa maçante. As crianças encaram a leitura como a descoberta de novos universos; elas têm orgulho de mostrar que sabem ler. Entre 2004 e 2006 trabalhei em uma biblioteca escolar. Lá os pequenos corriam para a biblioteca na hora do recreio e ficavam balbuciando as palavras, com aquela reticência típica de quem estava aprendendo a reconhecer as letras. E quem sabia mais, lia para os outros. A glória era mostrar para um adulto que sabiam ler. Liam em voz alta, para chamar a atenção. Os adolescentes não gostavam tanto de ir à biblioteca, pois muitas vezes a leitura virava uma obrigação. Mas os pequenos, se pudessem, passariam o tempo todo lá.

Outra razão é porque essas bibliotecas incorporam ao seu cotidiano serviços que atraem os (pequenos) usuários ao seu espaço: contação de histórias, teatro, saraus, oficinas de arte, palestras, exposições, bate-papo com escritores.De todos os tipos de biblioteca, a infantil e a escolar são as que melhor se orientam pelos seus usuários. Moldam-se à sua imagem e semelhança. Voltam-se para a leitura por prazer (mais a infantil que a escolar, que em seu - apoiar o projeto pedagógico da escola - ainda desvela uma obrigação). O universo infantil é lúdico e as bibliotecas entranham-se nesse espírito. Criança é criança em qualquer lugar, em qualquer tempo.

As bibliotecas vão acabar? Não sei. Só sei que estão mudando para se adequar a uma nova realidade; maior "presença" no mundo virtual é uma dessas mudanças. As bibliotecas infantis e escolares, por outro lado, são mais atraentes fisicamente que virtualmente. Porque ir à biblioteca, para os pequenos, é como aquelas brincadeiras que não saem de moda.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Projeto de Lei 1570/2007 da Câmara dos Deputados

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Quem trabalha em instituições culturais sabe como é escassa a verba estatal para essas atividades. Normalmente, as secretarias de cultura dos Estados e Municípios são as que têm o menor orçamento. Considerando as exceções, propiciadas pela vontade e esforço dos gestores à frente dessas instituições, as bibliotecas sofrem com essa falta de verba. Assim, mesmo em cidades de porte, há poucas bibliotecas públicas. Nas capitais há, normalmente, uma estadual e uma municipal; nas cidades do interior, há apenas a municipal.

O Projeto de Lei do Senado 27/2005 (http://goo.gl/4LdOP) permite “incluir a dedução de doações de livros a bibliotecas públicas no cálculo do imposto de renda devido por pessoas físicas”. Tramitou por dois anos na casa, passando pela Comissão de Educação e pela Comissão de Assuntos Econômicos, recebendo parecer favorável em ambas. Em 2007 o projeto foi enviado à Câmara dos Deputados, transformando-se no PL 1570/2007 (http://goo.gl/HTsm0); no mesmo ano recebeu parecer favorável da Comissão de Educação e Cultura e foi remetido à Comissão de Tributação e Finanças. O Deputado André Vargas (PT/PR) foi então designado relator e deu parecer favorável (aprovação do projeto com emendas) em 2009. Desde então o projeto pouco andou e em 2013 foi devolvido à comissão sem manifestação. Um novo relator foi designado, o Deputado Pedro Eugênio (PT/PE) (http://goo.gl/G5UUD).
A Lei 9250/1995 (http://goo.gl/NNhXe), que “altera a legislação do imposto de renda das pessoas físicas”, diz, no art. 12, inciso II, que são dedutíveis no imposto devido “as contribuições efetivamente realizadas em favor de projetos culturais, aprovados na forma da regulamentação do Programa Nacional de Apoio à Cultura – PRONAC”. O PL 1570/2007 altera esse artigo da lei, para permitir que sejam dedutíveis “as doações de livros adquiridos pelo contribuinte, feitas a bibliotecas públicas, até a data limite de entrega da declaração de ajuste”.
Atualmente, para captar recursos junto às pessoas físicas através de renúncia fiscal, os gestores de bibliotecas devem apresentar projetos ao PRONAC, de acordo com a Lei 8313/1991(http://goo.gl/gCXJZ) – ver especialmente o art. 3º, inciso II, alínea a dessa lei. As grandes bibliotecas fazem isso, porque contam com estrutura, serviços e pessoal, além do suporte do órgão mantenedor. Mas raramente acontece nas pequenas bibliotecas. A alteração da lei 9250/2007 facilitará o desenvolvimento de acervo, calcanhar de Aquiles de tantas instituições. O contribuinte poderá deduzir do imposto devido (até 6%) os gastos com livros doados. A comprovação será feita mediante apresentação a nota fiscal de compra e de um recibo fornecido pela biblioteca que receber a doação.
Sei que pode parecer utopia, mas a aprovação desse projeto de lei seria um “bom negócio” para os bibliotecários. Possibilitaria o desenvolvimento de acervo nas pequenas bibliotecas, muitas delas à mercê da vontade de gestores públicos que não as veem como prioridade. Seria uma forma de resolver, pelo menos parcialmente, a eterna falta de verba para a cultura.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Livro, leitura, meio digital

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Abri o livro impresso "Diários de bicicleta", de David Byrne, e li dez páginas. Acessei no tablet o arquivo do livro digital (extensão epub) "Diários de bicicleta", de David Byrne, e li as mesmas dez páginas. Sentei em frente ao computador, abri o arquivo do livro digital (extensão pdf) "Diários de bicicleta", de David Byrne, e li novamente as mesmas dez páginas. O conteúdo era o mesmo, ainda que um ou outro detalhe tenha me escapado em cada uma das leituras. Eu poderia ainda abrir o arquivo do audiolivro (extensão mp3) "Diários de bicicleta", de David Byrne, e ouvir as mesmas "dez páginas". Mas não o fiz. Seria um tipo diferente de leitura, mas ainda assim seria uma leitura.

O que é mais importante: o livro ou a leitura? O suporte ou seu conteúdo? O objeto - que pode ser enfeite, ferramenta e até arma - ou a mensagem nele contida? E aqui cabe outra pergunta: qual o objeto de trabalho do bibliotecário? O livro ou a mensagem? A informação dirão todos. A mensagem, eu digo. Pois há diferença entre informação e mensagem. Vou recorrer a Capurro: mensagem é oferta de sentido e informação é seleção de sentido. Então informação está do outro lado, no domínio do usuário. Mas esse não é o tema aqui. O tema principal é o livro e a leitura. Afinal, livros existem para serem lidos!

O livro é um objeto fascinante. Por isso sua circulação é controlada em regimes totalitários. Mas na verdade o objeto é censurado por causa da mensagem que ele carrega. Nos milênios que nos separam das invenção da escrita, o livro foi utilizado como ferramenta de poder e controle. Porque por muito tempo a escrita e a leitura fizeram parte do mundo dos que estavam no poder. Mas o livro é tão perigoso assim para os poderes constituidos? Como já dissemos o livro não é perigoso, mas a mensagem que ele carrega sim; e a leitura que se faz dele também. Estamos vendo o poder da leitura nas recentes tentativas de controle que a internet, especialmente as redes sociais, vem sofrendo, mesmo em países democráticos. A informação nasce da leitura e a sociedade informada ganha mais poder para questionar seus governos e isso, mesmo nas sociedades democráticas ocidentais, não é bem visto pelos que detêm o poder.

Ah, mas não é esse o meu tema também. Eu quero mesmo  falar é da morte do livro, a morte que não aconteceu. Foi alardeada com o surgimento do eletrônico. O papel estava fadado a acabar. E com ele seus produtos derivados. Acredito que desde os primórdios da da evolução humana os avanços tecnológicos são vistos com desconfiança. Assim foi com a tecnologia dos livros. Do papel para o digital, o que mudou? A experiência sensorial da leitura, com certeza, mas o que mais?

O livro não morreu, porque não há razão para sua morte. E se morrer, que mal tem, se o que importa de fato é a leitura.


Os e-books. Há uma tendência em tentar comparar o livro impresso com o e-book, buscando caracterizá-los como objetos antagônicos. É comum ler por aí que o e-book decretou a morte do livro em papel. Também é comum ouvir que o livro impresso é eterno, que o e-book jamais ocupará seu lugar, por causa das “dificuldades” da leitura em tela. Há ainda quem acredite que os dois formatos coexistirão, justificando isso com uma comparação mais antiga. Segundo contam, quando a televisão surgiu muitos disseram que a morte do rádio estava decretada. Até concordo que no horizonte que nossa visão alcança e-books e impressos coexistirão. Mas não podemos tomar como parâmetro o exemplo da televisão e do rádio.

Esses veículos, embora sejam meios de comunicação, têm características diferentes: a base do rádio é o áudio (a fala), a da TV é o vídeo (a imagem). A televisão não extinguiu o rádio, mas lhe tomou parte da programação. O rádio teve que passar por certas mudanças. Inegável é o fato que rádio  e TV são lidos de forma diferente, enquanto o livro digital e o impresso são o mesmo objeto em formatos diferentes: sua base é o texto escrito. 

Uma comparação mais pertinente para exemplificar a relação impresso/eletrônico é a dos formatos de música. Porque o conteúdo é o mesmo, mas os formatos mudaram. O vinil reinou absoluto até os anos 1980, quando os CDs o superaram. O reinado dos CDs durou pouco, pois o surgimento do arquivo de música em formatos para computadores, tirou-lhe a supremacia. Este, no entanto, é um caso de gosto: há artistas que ainda hoje lançam seus trabalhos em vinil, que segundo eles tem mais qualidade que os formatos que o seguiram. Entretanto, como formato menos popular, e como depende de um dispositivo específico para leitura, o vinil tem sua vida relacionada à produção de aparelhos que o lêem.

No caso dos livros, assim como foi com a música, a facilidade de uso de um formato teve mais influência em sua popularização que a qualidade técnica; o que no caso da música é mais evidente. Ouvir música em vinil é diferente de ouvir música em mp3. Alguns detalhes são percebidos no vinil e se perderam nos outros formatos. Mas a evolução técnica dos novos players e formatos pode resgatar essa qualidade. Nos livros não existe essa diferença de qualidade do conteúdo. A diferença está no suporte, mas o conteúdo é o mesmo nos dois formatos.

Atualmente, o maior empecilho para a popularização dos e-books (falando do Brasil) está no "iletramento digital", que é tão grande quanto o "iletramento normal". E, é claro, nos modelos de negócios dos e-books, que os tornam menos atraentes que os impressos.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O que quero das nossas bibliotecas?

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Quais serviços uma biblioteca deve oferecer a seus usuários/clientes/leitores? Quando trabalhei na Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa (http://goo.gl/4cT6y) ouvi uma diretora (ou foi a superintendente) dizer, ante uma ideia de criar um acervo de filmes na biblioteca, que aquilo lá não era videolocadora.

Sempre achei que a biblioteca Luiz de Bessa fosse uma maravilha. E ela é! Tem um setor de empréstimo de livros com ótimos títulos; um setor de periódicos com as principais revistas e jornais do país, além de um ótimo espaço de leitura; tem um setor de coleções especiais, com obras raras e um acervo sobre Minas Gerais (Mineiriana); tem um setor de obras em Braille e audiolivros; tem uma hemeroteca histórica; tem um setor infanto-juvenil muito atuante; tem um carro-biblioteca...

Mas a Luiz de Bessa é a única grande biblioteca pública de Belo Horizonte. É estadual. Tem também uma biblioteca municipal, menor que a Luiz de Bessa, que é vizinha dessa. Ambas na zona sul da cidade. Próximas a museus e teatros. No circuito cultural da cidade. Mas longe de regiões que são carentes de instituições culturais.

Entre 2011 e 2012, um amigo passou um tempo em Barcelona visitando a esposa e a filha de oito anos, que estavam morando lá. Ele me trouxe um “folder” de uma biblioteca municipal de lá, a Biblioteca Vila de Gràcia (http://goo.gl/cWjU3). Me falou que levou a filha a essa biblioteca algumas vezes. E que eles emprestavam livros, CD, DVD, jogos de videogame. Uau! Será que ninguém se preocupou com o fato de a biblioteca virar uma videolocadora? Ou um fliperama? Ah! a biblioteca de lá tem todos os serviços que a Luiz de Bessa tem.

A Vila de Gràcia não é a única biblioteca municipal de Barcelona. Não é a única biblioteca municipal do Distrito de Gràcia. Tem mais duas lá: a Biblioteca Jaume Fuster (http://goo.gl/SDhKV) e a Biblioteca Vallcarca i els Penitents - M. Antonieta Cot. (http://goo.gl/m12iz). O Distrito de Gràcia tem cinco bairros e, segundo informações oficiais, cerca de 120 mil habitantes (http://goo.gl/eTfrn). Portanto, uma biblioteca com muitos serviços - e bons acervos - para cada 40 mil habitantes.

Espalhadas por Barcelona existem trinta e quatro bibliotecas municipais (salvo erro de contagem), formando uma rede, como mostra esse mapa (http://goo.gl/F1KYa) e essa página web (http://goo.gl/pHzDa). A cidade tem cerca um milhão e seiscentos mil habitantes, ou seja, tem uma biblioteca para cada 47 mil deles.

Seria um sonho, ou uma utopia, querer um pouquinho dessa realidade aqui no meu país? Moro em Vitória (ES), uma cidade com quase 500 mil habitantes, que tem duas bibliotecas públicas: uma municipal e outra estadual. Ambas são pequenas, e não têm página na web.

E seria muito utópico desejar que nossas bibliotecas oferecessem mais serviços além daqueles tradicionais? Eu gostaria de ter um pouquinho daquilo que têm os moradores de Barcelona: bibliotecas atraentes e eficientes próximas a todos os cidadãos.

Quero uma biblioteca que me empreste jogos de Playstation!