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Blog sobre a biblioteconomia, bibliotecário, biblioteca, informação, mensagem, usuário, TICs. O nome do blog foi "surrupiado" de um roteiro (para teatro ou cinema) escrito por Paulo de Castro, o maior bibliotecário da terra. E viva Kalímeros!

sábado, 10 de setembro de 2011

BiblioBurro: uma biblioteca no lombo do burro

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Muito bacana o trabalho de Luis Soriano, professor de uma pequena cidade do interior da Colômbia, que para promover o acesso à leitura leva os livros até a casa das pessoas. É uma biblioteca itinerante, e impressionante, no lombo de um burro. Em 2008 o portal G1 republicou uma reportagem do New York Times sobre a "Biblioburro". O interessante é que esse professor trabalha em uma região assolada pela guerra que isola comunidades inteiras.

A matéria do G1 está aqui.

Abaixo dois vídeos sobre a BiblioBurro.



Tem muito mais vídeos no youtube.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

As tecnologias da informação e o atraso das bibliotecas

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O caderno Divirta-se do Estado de Minas (02/09/2011) traz uma matéria, assinada por Carol Braga, sobre livros eletrônicos, informação em meio digital e o atraso tecnológico da Biblioteca Pública Luiz de Bessa. De forma rápida o digital vem substituindo o papel como suporte de informação, mas essa evolução não é acompanhada pelas bibliotecas públicas. Ainda encontramos obstáculos bem difíceis de transpor. A matéria mostra como a burocracia (necessária), pode ser um entrave para a evolução dos serviços de informação e entretenimento geridos pelo Estado. Acho o tom da matéria ufanista ao considerar que a biblioteca mudará para melhor. Mudanças de cultura costumam acontecer nas trocas de gerações no poder. O problema é que a geração que governa e que elabora políticas públicas está sempre "uma oitava abaixo" da geração que detêm o conhecimento pleno das últimas novidades tecnológicas. Ainda precisamos lidar com as idiossincrasias dos administradores públicos. Vivo isso na biblioteca em que trabalho. A atual administração do órgão editou uma portaria suspendendo a compra de legislação pura (códigos, constituição), pois esse material está disponível na web. Mas, como a administração muda a cada dois anos, o próximo presidente pode revogar essa portaria (e é provável que o faça, pois o próximo nome na lista de sucessão tem a opinião de que esse material impresso é indispensável para o andamento dos trabalhos da instituição).
Adiante analiso alguns trechos do texto. Para ler a matéria completa clique aqui.
“Dentro de muito pouco tempo a configuração desse espaço sagrado dos livros tende a mudar muito e para melhor. "A biblioteca vai ser mais aconchegante. Espaço agradável, para ficar mais à vontade, com tomadas para ligar os dispositivos eletrônicos. Não será mais aquele lugar estéril", aposta o diretor da Faculdade de Ciência da Informação da UFMG (ex-Escola de Biblioteconomia), Ricardo Rodrigues Barbosa”.
Como eu disse considero o texto ufanista. Não acredito que a simples adesão ao digital e às tecnologias melhore o ambiente e os serviços da biblioteca.  E discordo da afirmação do Professor Ricardo Rodrigues de que a biblioteca, na configuração atual, é um lugar estéril. Não é, embora fique aquém de seu potencial. Sempre achei que falta aos professores de áreas técnicas, como a biblioteconomia, vivência prática. Ao considerar as bibliotecas atuais como estéreis, me parece que o professor se baseia em um universo limitado de opções. Não vou fazer mais considerações sobre essa afirmação por desconhecer o contexto da fala do professor. Uma frase fora de contexto pode gerar interpretações equivocadas.
“A velocidade com que a digitalização toma espaço na sociedade é inversamente proporcional à adaptação das bibliotecas brasileiras às novas tecnologias. "Wireless (rede sem fio) a gente não tem. Você acredita? Tem na Praça da Liberdade, mas não tem aqui", comenta Marina Ferraz, coordenadora da hemeroteca histórica da Biblioteca Pública Luiz de Bessa. O motivo? Falta de previsão de recursos. "Temos que fazer o planejamento dois ou três anos antes”, justifica. A principal biblioteca de Minas Gerais oferece apenas 10 computadores para consulta à internet. No acervo de 300 mil livros, nenhum é digital. “Temos planos, conversamos sobre isso, mas sempre esbarramos na questão dos recursos. Precisamos fazer um sistema específico para empréstimos de e-books, por exemplo", planeja Marina.”
A burocracia, o pensamento dos administradores e o delay entre gerações atrapalham a oferta de serviços de qualidade (e modernos) em instituições públicas. A falta de interesse dos governantes pelas áreas que dão pouca visibilidade na época das eleições também atrapalha. Quem se importa com cultura? O investimento infra-estrutura e em serviços como a segurança dão visibilidade ao governante. Investimento em cultura não. As concepções arcaicas dos gestores também contribuem para que os serviços continuem atrasados. Quando trabalhei na Biblioteca Luis de Bessa, de 2006 a 2008, os usuários não tinham “tomadas” disponíveis para ligar seus notebooks. Era proibido fazer isso, pelo menos no setor que eu trabalhava. Alegavam que os usuários não poderiam “gastar” a energia que era paga pelo estado. E nem transformar o espaço da biblioteca em escritório. Os computadores são ferramentas de disseminação da informação, os tablets são suportes e ferramentas de leitura, mas o administrador ainda os classifica como materiais estranhos ao ambiente de leitura. Um dilema que precisamos vencer é esse apego aos velhos serviços de biblioteca. Apenas emprestar e-books é como dirigir uma Ferrari a 20 km/h. As tecnologias permitem que esses serviços sejam turbinados. Mais que emprestar é necessário permitir o acesso a esse material. Acesso remoto e simultâneo. A biblioteca deve ser um imenso portal voltado para leitura facilitando a vida do leitor.
“Apesar de defasada em termos de tecnologia, a Biblioteca Pública já digitalizou 1 milhão de imagens da hemeroteca histórica. O próximo passo, ainda sem data definida, será a integração do banco de dados com a internet. "A pessoa consegue salvar e levar para casa, mas em um futuro vamos conseguir colocar isso na rede", planeja a coordenadora. "Digitalização é uma tendência e uma necessidade", cobra a pesquisadora Aline Lemos. Para fazer seu trabalho em Belo Horizonte, ainda precisa de máscaras e luvas para manejar os jornais históricos, dos quais fotografa as partes de seu interesse. "Facilita muito quando os arquivos estão na internet. Se isso fosse feito aqui, ia ajudar pesquisadores de outros lugares", avalia.”
Este trabalho de digitalização foi feito em parceria com o Arquivo Público Mineiro. O objetivo era preservar o acervo. O diretor do arquivo não queria que os documentos fossem disponibilizados na web, pois isso poderia diminuir o número de usuários no arquivo. As metas de trabalho nas instituições ainda eram voltadas para o usuário freqüentador do seu espaço físico. Os gestores destas instituições não viam o ambiente virtual como uma extensão, ou mesmo como um novo local, de sua atuação. Assim, cinco anos depois, os documentos continuam sendo consultados apenas no local. Mesmo com o universo de possibilidades que a internet oferece.
No Brasil a oferta de serviços de qualidade é quase um pecado. As empresas se esforçam para atender mal aos clientes e o Estado se esquiva de obrigações básicas. Facilitar o acesso aos bens culturais é uma delas. Enquanto nos Estados Unidos, Japão, Coréia, Europa a tecnologia está ao alcance de todos, a preços módicos, aqui o governo ensaia medidas que reduzirão o preço de equipamentos e serviços à estratosfera (atualmente estão na termosfera). Sem falar que a tão propalada inclusão digital é uma falácia. Como explicar a proposta do governo federal de oferecer banda larga universal com a incrível velocidade de 300 kbps custando, e isso é mais incrível, R$ 35,00. Nem como piada isso funciona, pois me parece mais uma tragédia. Sem políticas eficientes do governo, sem a diminuição da ganância de nossos empresários não há possibilidade da biblioteca pública entrar na era digital com alcance universal.